sexta-feira, 24 de julho de 2015

CARTA AO CORAÇÃO


Querido Coração, Espero não lhe enfurecer. Mas caso a arrenegação for inevitável, por favor, que seja remissível. Hoje, deliberei sobre a vida e não quis me aconselhar com você. Optei pela tua completude nesta sua subsistente permanência. Jamais te quero contristando, apenas pulsando, o meu desejo é que estejas sempre vivo e sagaz. Então estremecido coração, deixe-me malparar alguns juízos e sujeite-se ouvir com atenção. 

Você deve amadurecer... tão truão, tão bobinho! Entrega-se, rende-se e deixa por inadvertência que o amanhã está por vir – e este fato nem sempre é incólume. Pare de considerar-te como guião, direitura única. Aceite que os dias são inconstantes e versáteis, e você, nem um pouco articulado. Dê ouvidos à mim quando vocifero em tuas batidas. Cesse esse teu mau costume de dilacerar-se toda vez que algo impontual ou fora do preconcebido acontece. Saiba ser frígido em certos momentos. 

Eu sei que vivemos num repto infatigável. E a verdade é que você sempre leva a “melhor”, é você sempre quem decide. E sabe o mais patético? É que depois padece de uma aflição imensa. Coração, tu és casmurro, és teimoso e tampouco lerá esta carta. Por esta razão, ela ficará em minha gaveta até que estejas disposto a lê-la sem menoscabar minha razão. Talvez, nunca. 

Com carinho, 

Voz racional.

Natália Gross

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