Querido Coração, Espero não lhe enfurecer. Mas
caso a arrenegação for inevitável, por favor, que seja remissível. Hoje,
deliberei sobre a vida e não quis me aconselhar com você. Optei pela tua
completude nesta sua subsistente permanência. Jamais te quero contristando,
apenas pulsando, o meu desejo é que estejas sempre vivo e sagaz. Então
estremecido coração, deixe-me malparar alguns juízos e sujeite-se ouvir com
atenção.
Você deve amadurecer... tão truão, tão bobinho! Entrega-se, rende-se e
deixa por inadvertência que o amanhã está por vir – e este fato nem sempre é
incólume. Pare de considerar-te como guião, direitura única. Aceite que os dias
são inconstantes e versáteis, e você, nem um pouco articulado. Dê ouvidos à mim
quando vocifero em tuas batidas. Cesse esse teu mau costume de dilacerar-se
toda vez que algo impontual ou fora do preconcebido acontece. Saiba ser frígido
em certos momentos.
Eu sei que vivemos num repto infatigável. E a verdade é que
você sempre leva a “melhor”, é você sempre quem decide. E sabe o mais patético?
É que depois padece de uma aflição imensa. Coração, tu és casmurro, és teimoso
e tampouco lerá esta carta. Por esta razão, ela ficará em minha gaveta até que
estejas disposto a lê-la sem menoscabar minha razão. Talvez, nunca.
Com carinho,
Voz racional.
Natália Gross
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