É cedo, fique para o almoço! Exclamou a menina já com um
assomo de impaciência. A garota, sentindo-se bambear, desmantelou o contato
visual e continuou a juntar seus pertences direcionando seu olhar a porta.
Dobrou algumas pecas de roupa, jogou os calcados dentro da bolsa e embrulhou o
seu coração. "Devo partir cedo." Respondeu ligeiramente antes que
fosse questionada. E de joelhos, pôs-se acompanhar os passos da amada que dera
as costas num sinal de desaprovação. Alguns minutos passaram-se sem que uma
palavra sequer fosse dita. Do outro lado do cômodo podia sentir a respiração
pesada de seu amor. Inclinou-se enroscando as malas em seus bracos e num
impulso irrefreável uma lágrima escoou. O olhar extraviado contemplou a casa
num ato de despedida e logo lançou-se rumo ao chão. O silêncio perdurou por
mais alguns minutos, e logo aquilo tornou-se ensurdecedor. Era hora de partir.
O prédio estruturado em 3 lances de escadas parecia suspirar e sentir em cada
um de seus degraus a agrura da menina enquanto ela descia. Sem muitos acenos,
continuou a descer vagarosamente. Não queria atentar ao fato. Ela nunca gostara
de despedidas, mas aquela em particular, estava sendo excessivamente pior.
Despedia-se de uma crença que há tanto sustentara: o amor. As ondas quebravam no
mar a duas quadras dali, e na ausência de ruídos era possível sentir a paz
daquela obra da natureza. Amparou-se naquele momento junto a Deus e deixou-se
permitir. No céu, nuvens já anunciavam a chegada da chuva. Aquele conjunto
celeste, concernente à divindade parecia não suportar a aflição daquele
instante. "Tchau", árido e direto. A menina sentiu-se impelida de
volta à realidade. Voltou-se fixamente com sua percepção visual àquela que
tanto adorara e novamente emudeceu. Numa luta desleal tentava conter as
lágrimas que teimavam em cair. Cimentou e assentou o pensamento tentando
lembrar o que foi dito. Então novamente a voz áspera e rija ressoou:
"tchau". A verdade era que não conseguia assimilar como uma palavra
tão curta podia repercutir em tanto sentimento - dor. "tchau",
respondeu com pesar. Ligou seu carro e partiu - um adeus que somente ela sabia
o significado: nunca mais.
Natália Gross
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