terça-feira, 25 de agosto de 2015

Fragmentos de um amor.

É cedo, fique para o almoço! Exclamou a menina já com um assomo de impaciência. A garota, sentindo-se bambear, desmantelou o contato visual e continuou a juntar seus pertences direcionando seu olhar a porta. Dobrou algumas pecas de roupa, jogou os calcados dentro da bolsa e embrulhou o seu coração. "Devo partir cedo." Respondeu ligeiramente antes que fosse questionada. E de joelhos, pôs-se acompanhar os passos da amada que dera as costas num sinal de desaprovação. Alguns minutos passaram-se sem que uma palavra sequer fosse dita. Do outro lado do cômodo podia sentir a respiração pesada de seu amor. Inclinou-se enroscando as malas em seus bracos e num impulso irrefreável uma lágrima escoou. O olhar extraviado contemplou a casa num ato de despedida e logo lançou-se rumo ao chão. O silêncio perdurou por mais alguns minutos, e logo aquilo tornou-se ensurdecedor. Era hora de partir. O prédio estruturado em 3 lances de escadas parecia suspirar e sentir em cada um de seus degraus a agrura da menina enquanto ela descia. Sem muitos acenos, continuou a descer vagarosamente. Não queria atentar ao fato. Ela nunca gostara de despedidas, mas aquela em particular, estava sendo excessivamente pior. Despedia-se de uma crença que há tanto sustentara: o amor. As ondas quebravam no mar a duas quadras dali, e na ausência de ruídos era possível sentir a paz daquela obra da natureza. Amparou-se naquele momento junto a Deus e deixou-se permitir. No céu, nuvens já anunciavam a chegada da chuva. Aquele conjunto celeste, concernente à divindade parecia não suportar a aflição daquele instante. "Tchau", árido e direto. A menina sentiu-se impelida de volta à realidade. Voltou-se fixamente com sua percepção visual àquela que tanto adorara e novamente emudeceu. Numa luta desleal tentava conter as lágrimas que teimavam em cair. Cimentou e assentou o pensamento tentando lembrar o que foi dito. Então novamente a voz áspera e rija ressoou: "tchau". A verdade era que não conseguia assimilar como uma palavra tão curta podia repercutir em tanto sentimento - dor. "tchau", respondeu com pesar. Ligou seu carro e partiu - um adeus que somente ela sabia o significado: nunca mais.

Natália Gross

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