Madrugada adentro e os dedos a redigir mais um lanço de
sentimentos. A dor parece já ter se acomodado num cantinho às apalpadelas e já
nem lateja mais, alguns dias e ela fará moradia longe, longe, longe… É como se
neste embaraço de combinações os dedos estivessem confortáveis em suas
expressões.
Deixarei-os livres, isento de qualquer coação ou domínio. Sejam,
apenas sejam, mesmo que não encontrem sentido algum. Escorram alma em cada
grafia e eu os sustentarei em ricos parágrafos. Nunca tive medo do amor, mas
confesso que amar dá um tremorzinho aqui dentro. Mesmo assim, arrisco o
abrasador, o cálido, já que o morno nunca me apeteceu e o gélido jamais me
manteve, aposto no fervor… ah, o fervor… este sim, vive a tirar profundos
suspiros. Se eu pudesse estar circunscrita e ardente em uma palavra, esta
seria: amor.
Às vezes me pego peregrinando em meus pensamentos… Como pode o
amor ser tão lindo até mesmo na dor? Foi quando mais feriu, mais causou dor que
elas chegaram para adornar minha alma… as flores. Hoje iniciei um ciclo sem
prenúncio. Poderá ser uma vida inteira ou quem sabe, uma estação. Planto uma
flor por dia onde chamarei mais tarde de: "meu jardim". Elas
carregarão as recordações desta estação - que como tudo na vida, passará. Serão
guarnecidas com meus cuidados dia após dia - com todo carinho e sensibilidade
que porto.
O amor as adubará, fará delas resistentes e minha crença as
fortalecerá todas manhãs. Todo amanhecer, ao levantar-me irei vê-las. Cavarei
mais um buraco e junto às que lá estão, outra irá florescer - mais uma cor
radiante a embelezar meu lindo jardim. Como tudo na vida - e como o mundo, elas
também tem "prazo de validade". Elas não diferem neste aspecto. Mas
sabe o melhor? Nesta estação, ano que vem, estarão prontas a florir e mais uma
vez, colorir nossa alma.
Natália Gross
Nenhum comentário:
Postar um comentário